Saturday 21 September 2019

Meio Cheio... Meio Vazio...

Diálogos sobre a realidade dos enchimentos
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Conheces pessoas optimistas que dizem que o mundo vai melhor? Ou as outras, que afirmam o contrário como o meu amigo Rebenta Balões? É um tipo roído por sentimentos ácidos em relação ao mundo hodierno, suas governanças e desgovernações. Passou por um festival de análises e a saúde estava mais ou menos. O colesterol mantinha-se elevado, é claro, mas baixara uns pontos. O que lhe deu pretextos para uma almoçarada que nem te conto. Sou o primeiro a falar:

- Para ti, este copo está meio cheio ou meio vazio?
- Estou farto dessa porra de pergunta de psicólogo de meia-tigela.
- Por outras palavras: és optimista ou pessimista?
- Cagando! Nem um nem outro. Realista... Estás a par do conceito?
- Que importa? Algumas pessoas vêem o futuro com esperança... Outros é o contrário.
- Não sou do género binário. 
- Tu é... Talvez!
- Sou pelo cálculo de probabilidades.
- E que mal tem perguntar se o copo está meio cheio ou meio vazio?
- Porque não sei a quantidade de líquido que está lá dentro, carago. Qual é o tamanho do copo? Um copinho meio cheio ou meio vazio de um decilitro tem menos vinho para distribuir que um copo do tamanho de uma jarra de dez litros a um terço da sua capacidade.
- Mas essa jarra... Quando está a meio como é que a vês? Meia cheia ou meia vazia?
- Meia, simplesmente. A metade! Com cinco ou dez litrinhos é a medida que conta... Já agora diz-me lá Herr Freud : qual é a diferença entre litrinho e litrão?
- Bom... Quando vou ao médico digo-lhe que bebo um litrinho por semana.
- Sentes-te menos culpado, né? A medida exacta de litrinho ou litrão é um litro, ou dez decilitros...Meio cheio ou meio vazio... Mas sempre podes rezar.
- Rezar! A que propósito?
- Quando vires o copo meio vazio roga a Deus para que ele te ajude a vê-lo meio cheio.
- Que comparação!
- Sentes-te menos pobre e não reivindicas aumento de salário. De repente viras meio rico em vez de meio pobre.
- Já cá faltavam os teus esquerdismos.
- Esquerdista, eu? Para tua informação sou como o Mobuto Sesse Seko... Lembras-te do ditador africano? Aquele que morreu bilionário...
- Sou suficientemente velho para me recordar dele. Presidente do Zaire.
- Do Congo, é assim que se deve dizer hoje.  
- Que vem o Mobutu aqui fazer?
- É que ele dizia: nem à esquerda, nem à direita, nem mesmo ao centro!
- Ah! Ah! Ah!
- Tinha razão. Hoje, isso de esquerda ou direita não conta. É para cima ou para baixo: Winner ou loser!
- Conta sim... Tu és evidentemente de esquerda. Toda a gente o diz...
- Olha se fosses mandar essa gente aaa... Lamber sabão? Quando digo que o Bolsonaro é uma avantesma sou de esquerda ou de direita?
- De esquerda, olha lá a pergunta... E então se te puseres a defender os índios... Esquerdopata incurável!
- Realista, é o que sou! Analiso a quantidade de adjectivos pútridos que lhe saem da boca versus os sãos... E a imagem é clara.
- Não gostas dele porque o homem disse que no Brasil não se mataram suficientes esquerdistas como tu.
- Até me fazes mijar de rir. Se tivesse coragem para isso, aquela abentesma fazia uma razia da extrema-esquerda até à direita inteligente, passando por centro, centro-esquerda, ecologistas, sociais-democratas, feministas, gays e lésbicas e mais não digo. Tudo o que lhe fica à esquerda é esquerdista. Até os índios kayapós da amazónia são comunistas.
- Estás a ver? Quando falas do homem vês-lhe o copo meio cheio de veneno.
- Meio cheio? Aquilo é jarras a transbordar de peçonha extraída das cepas da burrice.
- Iiiih! Vê lá se as tuas cepas de ódio ainda destilam venenos semelhantes e te matam.
- Eu destilo contravenenos! Antídotos! Vacinas! Anticorpos...
- OK... Acalma-te, olha a tensão. Falemos de outro com mais coragem e poder: Trump.
- Queres que eu tenha um AVC ou quê?
- Bolsonaro... Trump... Foram eleitos... E tu és um grande defensor da democracia.
- Sempre disse que para a democracia funcionar razoavelmente são necessários eleitores razoavelmente educados.
- Conheço muita gente educada que votou no Bolsonaro.
- Hã?
- Sim... Pessoal com estudos, que escreve coisas giras no Facebook. Falam de concórdia, paz e amor. Pais e mães de família. Até lá colocam fotos de crianças giríssimas... 
- Mas ouve lá... Estás a provocar-me ou quê? O Hitler foi eleito por montes de pessoas como essas.
- O Salazar...
- O Salazar eleito? Porra! És mais burro do que eu pensava... Se fosses brasileiro votavas no absconso.
- Quando me interrompeste, eu ia dizer que até há gente boa que gosta do Salazar.
- Porra! Até há gente boa que gosta de comida escocesa...
- Isso são os escoceses.
- Mau exemplo, é verdade. A comida é duvidosa mas olha, nunca elegeram ditadores. Se calhar é o uísque que os faz ver claro.
- Por falar em uísque... Vai mais um?
- Mas sem esse gelo que pões no teu... Estragas tudo. Arre! É bom demais...
- É... Quantos entalámos?
- Sei lá... Deixa ver... Ora bolas... A garrafa está meio vazia!

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© Carlos Taveira

LIVROS ASSINADOS PELO AUTOR DO BLOGUE
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Assim Escrevia Bento Kissama, Romance, Português, Guerra e Paz, Editores, Lisboa, Portugal, 2019, 296p, ISBN: 9789897024764 

São Paulo, Prisão de Luanda, Memórias, Português, Guerra e Paz, Editores, Lisboa, Portugal, 2019, 176p, ISBN 9789897024511 

Texto Editores, Lisboa, Portugal, Lisboa, 2006, 319p, ISBN : 9789724731452

La traversée des mondes, Roman, Français
Les Éditions L'Interligne, Ottawa, 2011, 576p, ISBN 978-2-89699-392-5

Mots et marées, Roman, Français
Les Éditions L'Interligne, 2014, 560p, ISBN 978-2-89699-392-5.

De la racine des orages, Poésie, Français.
Les Éditions L'Interligne, 2014, 186p, ISBN 978-2-89699-404-5

Mots et marées tome 2, Roman, Français
Les Éditions L'Interligne, 2015, 186p, ISBN 978-2-89699-404-5

A Feather for Pumpkin, Fiction, English
Create Space, 2016, 186p,  ISBN-10: 1519662505, ISBN-13: 978-1519662507

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